POR LUCIANA BESSA
Até meados do século XX, as mulheres não frequentaram a escola sob pena de “alguém” fazer-lhe algum mal.
Por volta dos
dezesseis anos, fase em que pais e filhos parecem não se entenderem,
Quase uma década
depois, descobri a resposta: um mal irreversível. Quando se lê, por exemplo,
fica-se sabendo de fatos
Fiquei imaginando
se é por isso
É exatamente isso
o que acontece quando adentramos o universo da leitura e da escrita. O mundo
das letras foi/é o passaporte das mulheres para a saída do espaço privado para
o espaço público.
Embora tenhamos
chegado a este espaço, via de regra, ainda são os homens que mais publicam
livros no Brasil (e os que mais são premiados); são eles que ganham um salário
maior (embora as mulheres desempenhem as mesmas funções). É o gênero masculino
quem ainda decide sobre os corpos femininos.
Digo isso porque
recentemente a Câmara dos Deputados aprovou, em regime de urgência, ou seja,
sem precisar passar previamente por comissões, o projeto de Lei nº 1904/24,
idealizado pelo deputado do Partido Liberal (PL), Sóstenes Cavalcante, com o
apoio de trinta e dois
Outro deputado,
também do PL, Eli Borges, alega que essa punição deve acontecer, porque a
partir da vigésima segunda semana, o feto está em plenas condições de “viver
fora do útero da mãe”.
E não é que
Borges tem razão! A questão é: alguém por ventura pensou na possibilidade de a
mulher simplesmente não desejar ser mãe? Será que foi cogitado: e no caso de a
mulher ser vítima de estupro? E se essa violência for cometida contra uma
adolescente de 12, 13 ou 14 anos? O que nenhum desses fiscalizadores da moral e
dos bons costumes entendem (e não fazem questão de entender), é que “Criança
não é mãe, e estuprador não é pai”, frase proferida pela deputada Samia Bonfim,
do Partido Socialismo e
Liberdade (PSOL) e, deste então, bradada pelos quatro cantos desses
país.
No Brasil, a taxa
de estupro de pessoas adultas e de vulneráveis, crianças e adolescentes,
cresceu mais de 8% desde 2021. Estamos falando de mais de 56 mil casos de
violência sexual.
Mas de fato, o
que significa tudo isso? Que a mulher sairá da condição de vítima e assumirá o
posto de assassina, podendo ficar presa por até vinte anos. Ou seja, a mulher é
violentada duas vezes: primeiro pelo estuprador, depois pelos apoiadores dos
estupradores. Diante de tanta repercussão negativa, o mentor intelectual do
projeto Sóstenes Cavalcante já o “melhorou”: sugeriu que a pena para o
estuprador fosse de trinta anos.
Resolvida a
equação moral-teológica: mulher/vulnerável estuprada que não cumprir à risca a
lei – pena de 20 anos. Estuprador - 30 anos. Tão dura e absurda como a proposta
brasileira são as leis de países com restrição aos direitos das mulheres:
Afeganistão, Indonésia, El Salvador.
Quero voltar
antes do fatídico doze de junho de 2024 em que escrevia textos protestando em
que homens eram mais premiados do que as mulheres. Do dia treze em diante, mais
do que escrever é preciso sair às ruas, usar as mídias sociais, pedir apoio às
Organizações não Governamentais (ONGS) que atuam no combate à violência contra
a mulher, usar todas as estratégias possíveis para afirmar e reafirmar: “Meu
corpo, minhas regras”.
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