A Assembleia Legislativa do Estado do
Ceará (Alece) aprovou, nesta quinta-feira, 6, o projeto de indicação 696/2023,
que autoriza o governo estadual a criar o Memorial Padre Ibiapina, em Barbalha.
A iniciativa, de autoria do deputado
estadual Renato Roseno (Psol), busca a instalação de um equipamento público
cultural e educativo destinado à memória, valorização e compreensão da
identidade das populações do Cariri.
É importante ressaltar que o projeto de
indicação funciona como uma sugestão ou solicitação ao governador do Estado,
que pode acolher ou não a proposta do legislativo. Atualmente, aos deputados
estaduais do Ceará não competem a criação de leis que acarretem aumento de
despesa para os órgãos do Executivo.
Por isso, o projeto de indicação foi
enviado para que o poder público estadual possa, a partir a Secretaria de
Cultura do Estado do Ceará (Secult), analisar a viabilidade do pedido e
promover as medidas administrativas e operacionais necessárias. Neste caso, a
sugestão é que o equipamento seja feito na antiga Cadeia Pública de Barbalha,
localizada no Conjunto Nassau, às margens da CE-060, a poucos metros de onde
será instalada a sede do curso de Tecnologia em Gestão de Turismo da
Universidade Regional do Cariri (URCA).
Importância
A iniciativa do deputado Renato Roseno
tem como objetivos: promover a educação e a memória a respeito da figura Padre
José Maria Ibiapina e da relevância de seu trabalho social; evidenciar os
eventos históricos e os movimentos sociais e políticos que atuavam nacional e
localmente no século XIX, com foco nos desdobramentos na região do Cariri.
Além disso, busca destacar as
particularidades da religiosidade popular na formação da identidade cultural da
região do Cariri, trazendo conexões com a contemporaneidade; sensibilizar a
população cearense sobre os conflitos históricos e contemporâneos acerca do
acesso desigual à água e das lutas populares contra o latifúndio; e formar e
engajar a sociedade civil na preservação da história e cultura do sertão
cearense.
“O Padre Ibiapina realizou diversas
benfeitorias na região do Cariri, como a construção das casas de caridade, de
açudes e cemitérios. Além disso, ensinou técnicas agrícolas aos sertanejos e
atuou na defesa de direitos dos trabalhadores rurais, sendo apoiador relevante
à organização comunitária dos camponeses”, justifica o parlamentar. “Suas ações
e obras sociais foram especialmente necessárias à democratização do acesso à
água potável e à saúde”, acrescenta.
A demanda surgiu a partir da própria
coordenação do curso de Gestão de Turismo da Urca, que acredita que a
instituição poderá participar da sua gestão, em parceria com a Secult, outros
órgãos da Administração Pública e entidades da sociedade civil. A expectativa é
que o equipamento possa servir na atuação de estagiários de graduação. “Um
espaço cultural e, ao mesmo tempo, laboratorial para as ciências humanas, no
contexto do semiárido nordestino, pode cumprir um papel socioeducativo a partir
da extensão universitária à comunidade e seu entorno”, acredita o professor
Josier Ferreira.
O prédio encontra-se completamente
desativado e, por isso, o imóvel teria que ser transformado, recuperando sua
função social a partir do resgate histórico. Contudo, trata-se de uma
localização estratégica, já que está em rota turística do Cariri, a caminho de
pontos importantes de visitação, como o Geossítio Riacho do Meio, o Balneário
do Caldas e o Teleférico do Caldas.
Assim, além do projeto de indicação, o
parlamentar enviou à Comissão de Cultura e Esportes o pedido de uma visita
técnica ao prédio para que sejam avaliadas suas atuais condições. Isso ainda
será discutido e votado pelos deputados e deputadas que compõe o órgão
legislativo. “É inegável que se trata de um tema de interesse público”,
finaliza Roseno.
Quem foi o Padre Ibiapina?
Nascido em Sobral, José Antônio Pereira,
que depois adotaria "Maria Ibiapina" ao seu sobrenome, pisou na
região do Cariri, pela primeira vez, aos 13 anos, quando seu pai, Francisco
Miguel Pereira, foi nomeado tabelião vitalício de Crato, em 1819. Temendo pelas
agitações da Revolução Pernambucana sua família enviou o garoto, no ano
seguinte, para Jardim, onde estudou latim. Em 1823, deixou o sul do Ceará e
rumou ao Seminário de Olinda, em Pernambuco.
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