A moradia é a porta de entrada para outros
direitos
A moradia é fundamental e garantidora de
direitos e cidadania. Sem moradia o ser humano perde o rumo. Nesse sentido, é
preciso refletir sobre a necessidade de se lutar para garantir moradia para a
população pobre de Juazeiro do Norte e isso requer a união de esforços do povo,
do trabalhador, das lideranças políticas e das instituições não governamentais
e governamentais como os governos municipal, estadual e federal.
A luta pela moradia em Juazeiro do Norte
precisa unir a sociedade
Por Rafael Silva
Militante da União Nacional Por Moradia Popular
Gostaria de falar sobre um desafio que atinge o
coração de nossa gente que é o déficit habitacional na Terra de Padre Cícero.
Cidade da fé que move multidões e da resistência do povo nordestino, Juazeiro
do Norte carrega também as marcas de uma desigualdade que nega o direito básico
à moradia digna.
Segundo estudos da Fundação João Pinheiro e do
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) o Ceará possui um
déficit habitacional de mais de 200 mil moradias e Juazeiro do Norte, como polo
econômico e religioso da região, concentra parte significativa desse problema.
Aqui, atualmente milhares de famílias vivem em
casas improvisadas e cortiços superlotados ou em áreas de risco sem acesso a
saneamento básico, água potável ou segurança pública. Enquanto a cidade cresce
como destino de romarias e turismo, muitos de seus filhos são invisibilizados
pela falta de políticas públicas estruturais.
A moradia sendo garantida serve como porta de
entrada para todos os outros direitos como saneamento básico, o posto de saúde
funcionando, escolas e creches nas comunidades, um bom transporte público e
emprego e oportunidades para os pais e mães de família e a juventude.
A pergunta, portanto, que cabe à todos nós
nesse momento e constatando esse grave problema é: por que o déficit
habitacional persiste numa cidade como a nossa? Abaixo alguns pontos para
reflexão.
CRESCIMENTO DESORDENADO
A migração de famílias do sertão para Juazeiro,
em busca de oportunidades, não foi acompanhada de planejamento urbano. Bairros
periféricos se expandem sem infraestrutura, enquanto áreas centrais sofrem com
a especulação imobiliária.
POBREZA E DESIGUALDADE
Mais de 40% da população de Juazeiro vive com
menos de meio salário mínimo. Programas como Minha Casa, Minha Vida chegam, mas
não atendem à demanda real, especialmente para quem está na informalidade.
FALTA DE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA
Muitas famílias ocupam terrenos há décadas, mas
não têm titularidade da terra, o que as impede de acessar crédito e melhorar
suas moradias. Nas comunidades carentes, a falta de esgoto e água tratada faz
proliferar doenças como dengue, zika e infecções respiratórias.
VIOLÊNCIA E EXCLUSÃO
Bairros sem investimento público tornam-se
territórios marcados pela vulnerabilidade social, onde jovens vem convivendo
cada vez mais, em ciclos de violência. Há desemprego e falta de emprego e
oportunidades nas periferias.
A dignidade negada, como disse o escritor
Euclides da Cunha que “O sertanejo é antes de tudo um forte". Mas a força
de um povo não justifica que ele viva sem teto, sem paz e sem esperança.
Um dos caminhos para transformar essa realidade
em Juazeiro do Norte é promover a regularização fundiária urgente, titular
terras ocupadas historicamente, garantindo segurança jurídica e acesso a
programas de melhoria habitacional.
Habitação popular integrada, com a construção
de moradias dignas próximas a empregos, escolas e postos de saúde, evitando
guetos de pobreza, pode ser um caminho a seguir.
Parcerias locais envolvendo universidades, centros
do saber e do conhecimento, empresas e a Igreja (herdeira do legado de Padre
Cícero) em projetos de urbanização e geração de renda.
E o mais importante: criar mecanismos e não
incentivar a retenção de terrenos ociosos e priorizar o uso social da
terra.
UM CHAMADO A ACÃO COLETIVA
Juazeiro do Norte é mais do que um símbolo
religioso é um espelho do Brasil que luta por justiça. Enfrentar o déficit
habitacional aqui não é apenas construir casas, mas, reconstruir vidas e honrar
a história de resistência do nosso povo.
Como ensinou Patativa do Assaré, poeta ícone
cearense: “A esperança é a mãe do pobre, e o pobre é o pai da riqueza”. Que
nossa esperança se transforme em ação, unindo prefeitura de Juazeiro do Norte, governo
do estado, União e sociedade civil para garantir que toda família juazeirense
tenha um lar. Que o exemplo de Padre
Cícero, que acolhia os pobres e desafiava as estruturas de poder, nos inspire a
priorizar a vida sobre o lucro. O direito à moradia não é caridade — é
justiça.
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