ENTREVISTA
O professor Edson Xavier concede entrevista ao
jornal Leia Sempre Brasil e define sua campanha e sua ação política. Fala sobre
educação, cultura, movimento sindical e diz que quer defender no legislativo de
Juazeiro do Norte as pautas da classe trabalhadora.
1.
Professor Edson Xavier, por que você lança agora sua pré-candidatura a vereador
de Juazeiro do Norte?
Lanço minha candidatura porque acredito que é
necessário enfrentar as propostas da extrema-direita que hoje pautam o debate
político em boa parte do mundo. Acredito ser o momento de termos, depois de
muito tempo, representantes dos movimentos sociais e sindicais na Câmara
Municipal de Juazeiro do Norte. Alguém que estabeleça uma ligação entre as
demandas desses movimentos e do povo trabalhador, a ação direta nas ruas e o
que se discute lá dentro.
2. Quais
são suas pautas que deverão ser debatidas na campanha deste ano?
Os eixos centrais da campanha serão a educação,
cultura e negritude. Todas essas pautas estão intrinsecamente ligadas às lutas
da classe trabalhadora. Nossa luta passa pela valorização dos profissionais da
educação e melhorias das condições estruturais das escolas. Em relação à
cultura, é necessário o estabelecimento de recursos públicos para a pasta, a
constituição de políticas de apoio aos mestres da cultura, assim como políticas
de ocupação dos equipamentos do município. Quanto à pauta da negritude, procuraremos
instituir leis que possam fortalecer as iniciativas antirracistas, tanto das
instituições públicas quanto das organizações da sociedade civil.
3. Como
você avalia a participação da sociedade em um pleito municipal como este?
A participação popular nas eleições é muito
importante, mas não pode se restringir simplesmente ao voto. É importante que
as pessoas reflitam, elaborem, proponham e ajudem a construir os programas
políticos que estão sendo discutidos. É importante também que se engajem para
eleger seus representantes. Sabemos, no entanto, que o modelo de sociedade em
que vivemos deixa pouco espaço para as pessoas se engajarem e até mesmo as
desestimula nesse sentido. Precisamos remar contra a maré e compreender que a
política, seja ou não em tempos de eleições, é incontornável.
4. Como
você avalia a luta das esquerdas e da sociedade brasileira contra o fascismo?
Tivemos uma grande vitória contra a extrema-direita
quando elegemos Lula, derrotando Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2022.
Essa mesma extrema-direita, ainda assim, não está morta e mostra força em
várias partes do mundo neste momento. A ação das pessoas nas ruas, na
organização dos movimentos antifascistas, assim como o enfrentamento no campo
eleitoral, será fundamental para que possamos combater o neofascismo. Mas é
necessário que a esquerda brasileira não minimize os perigos que esse movimento
representa, que faça a disputa ideológica e busque a unidade nesse
enfrentamento. A fragmentação, em um quadro como esse, só ajuda a fortalecer o
neofascismo.
5. Você,
como sindicalista, como avalia o sindicalismo atual no Brasil e no Ceará?
O sindicalismo brasileiro sofreu o impacto de duas
movimentações opostas nas últimas décadas. Com o PT no governo federal, houve
uma atração das organizações sindicais para a esfera do governo. Grandes
organizações do sindicalismo brasileiro passaram a estar umbilicalmente ligadas
ao governo petista e abandonaram sua postura de enfrentamento às políticas do
governo que feriam os direitos da classe trabalhadora. A partir do golpe que
derrubou Dilma, os ataques aos direitos dos trabalhadores se intensificaram, e
as próprias organizações sindicais foram feridas de morte com o fim repentino
do imposto sindical. Isso, somado a um discurso ultraneoliberal que ataca os
sindicatos e dissemina uma ideia de que eles são inúteis, corruptos ou
perversos, enfraqueceu sobremaneira as organizações sindicais. Estas, no
entanto, continuam existindo, organizando a classe trabalhadora e lutando. O
Ceará reflete essa mesma lógica, com as dificuldades decorrentes do fato de que
a informalidade e o trabalho precário têm um peso muito grande em todo o
estado, dificultando a organização da classe trabalhadora em sindicatos.
6. Você é
professor da rede pública de ensino. O que dizer sobre a luta dos professores
no momento atual?
Dentro do município de Juazeiro do Norte, o
professorado é, com certeza, uma das categorias que mais luta. Lutamos
constantemente pelo respeito à lei do piso salarial do magistério, assim como
pela devida aplicação do Plano de Cargos e Carreiras, que foi a principal luta
no município neste ano. Até então, o atual governo não tem respeitado o Plano
de Cargos e Carreiras do magistério, havendo professoras e professores já com
mais de três anos de espera para o enquadramento. Na grande maioria das
escolas, os professores têm sofrido com calor dentro das salas de aula, sendo
recorrentes casos de professores e alunos que passam mal devido ao calor. A
gestão também teve um número muito elevado de denúncias de assédio moral. Nesse
caso, a visão autoritária e distorcida do bolsonarismo em relação ao
professorado e à escola deu o tom na relação prática entre diretores e
coordenadores em muitas escolas da cidade.
7. Como
você analisa a gestão Gledson Bezerra?
A gestão de Gledson Bezerra, embora tenha se
pintado como algo diferente das gestões anteriores, reproduziu o mesmo descaso
com as necessidades da população. Em nenhuma das questões centrais da gestão
pública municipal houve avanço significativo. Continuamos sem ter um hospital
público municipal, mesmo sendo a maior cidade do Cariri. Continuamos tendo
problemas críticos na educação, com um dos piores índices do estado, mesmo com
um quadro profissional cada vez mais qualificado. Gledson Bezerra abriu portas para
os ultraliberais e a extrema-direita na arena política municipal ainda como
vereador. Agora, como prefeito, embora com um discurso mais polido e moderado,
é a figura ao redor da qual essa extrema-direita gravita e deve utilizar como
trampolim nas próximas eleições se ele for reeleito.
8. Na
atual gestão, como ficou a situação dos serviços públicos?
No que diz respeito aos servidores públicos, o
governo de Gledson Bezerra é marcado por inúmeros casos de assédio moral nos
diversos locais de trabalho, pela falta de flexibilidade quanto às negociações
com os representantes dos trabalhadores e trabalhadoras, e um discurso de
austeridade fiscal utilizado constantemente para negar direitos. Entre os
servidores da educação, os professores esperam há mais de três anos serem
enquadrados no Plano de Cargos e Carreiras. Professores que deveriam estar
ganhando como doutores ou mestres estão ganhando como graduados, com uma perda
remuneratória muito significativa. Funcionários da educação esperam a criação
de seu PCCR, cujas negociações não avançam. Alguns outros setores, muitas vezes
pequenos, pleiteiam reivindicações mínimas, mas que ainda assim não são
atendidas, como é o caso dos coveiros, que é uma categoria muito pequena e luta
pela majoração de seu adicional de insalubridade e pela melhoria de seus
equipamentos de trabalho. A insatisfação dos servidores com o governo é enorme.
9. Como
servidor público, quais são as demandas da categoria e quais o prefeito Gledson
resolveu? E como foi a relação de vocês com a atual gestão?
A relação dos servidores públicos com a gestão
Gledson Bezerra foi e ainda está sendo muito difícil. Embora o governo afirme
dialogar, de um modo geral, dificilmente houve negociação efetiva. As mesas de
negociação eram mera formalidade, com o governo tentando impor de uma forma ou
de outra suas propostas. O discurso de austeridade fiscal foi a tônica do
governo com os servidores nesses últimos anos. Sabemos que se as demandas dos
trabalhadores e trabalhadoras do município não forem pensadas dentro do orçamento
público, nunca haverá espaço fiscal para essas demandas. No final, é tudo
questão de vontade política, e dentro do discurso e da prática ultraliberal,
esse espaço não existe.
10. Caso
você seja eleito, o que pretende levar como debate prioritário para o
legislativo de Juazeiro do Norte?
Seguindo sempre a premissa de que um parlamentar
socialista deve ser um tribuno da classe trabalhadora, sendo eleito, minha
pretensão é estabelecer um vínculo do mandato com os movimentos sociais e
sindicais, levando a pauta desses movimentos para dentro da câmara e
mobilizando as pessoas em torno dessas pautas. Acredito que não há conquista
efetiva sem mobilização de trabalhadores e trabalhadoras. Por ser um educador,
negro e envolvido com os movimentos culturais da região, esses devem ser os
focos da atuação parlamentar: educação, a questão racial e a cultura. Pretendo
pensar em propostas políticas e organizar a mobilização em torno dessas pautas
junto com os profissionais da educação, com os ativistas do movimento negro e
moradores da periferia, e com os artistas, brincantes e ativistas da cultura.
11. E
para concluir, quem é o professor Edson Xavier?
Sou um militante socialista negro, professor de
história há mais de vinte anos. Fiz graduação, especialização e mestrado na
URCA, onde atuei como militante do movimento estudantil. Sou sindicalista,
compondo o sindicato dos servidores municipais de Juazeiro do Norte, de onde,
no momento, me licenciei para as eleições. Sou apaixonado pela arte, tendo
organizado saraus, produzido poesia, experimentado desenho, pintura e
fotografia, e já há alguns anos toco percussão com uma banda cratense. Sou pai
da Nina e da Odara e, como elas, uma pessoa inquieta. Acredito que as pessoas
devem poder aproveitar toda a riqueza social, cultural e material gerada pelo
conjunto da sociedade. Essa é a ideia que me incomoda e me movimenta.
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