COLUNA NORDESTINADOS A LER
POR LUCIANA BESSA
Abril começou com o dia da mentira (1) e vai
finalizando com o dia da verdade: meu aniversário (27), momento de celebração.
Pelo quê? Por estar viva, por gozar de saúde física e mental em uma sociedade
que cultua a aparência e deixa em segundo plano a essência.
Por ter disposição para correr atrás dos sonhos
que ainda não realizei e agradecer por aqueles conquistados. Por ter adquirido
a maturidade de compreender que nem tudo são flores nessa vida, mas que os
espinhos são capazes de nos fortalecer para que continuemos caminhando. A tristeza, assim como a alegria, é
momentânea; que independemente do sol, ou da chuva, é preciso lutar pelo que
acreditamos.
Por ter acesso aos livros, um bem de consumo
caro em nossos tempos. Eles me permitem conhecer pessoas e narrativas que eu
jamais suporia existirem; além de criar expectativas de vivenciar situações da
ficção, afinal, a vida não imita arte?
Por há tempos ter saído da caverna e conviver
com luzes e sombras que permitem me conhecer, me libertar de preconceitos, me
tornar aberta ao novo. Por viver em uma era dominada pelas novas tecnologias,
em que praticamente todo mundo arrota felicidade, mas não me permitir ser
governada por elas.
A demanda pela perfeição e pela produtividade
são tão grandes que impedem muitos de conquistarem aquilo que almejam. A
perfeição é um mito criado pela humanidade com o propósito de nos encastelar em
uma torre de marfim, assim como fizeram com os poetas parnasianos. Presos a
essa crença, passamos o resto dos nossos dias cansados e combalidos por não
conseguirmos dar o match entre aquilo que podemos fazer e aquilo que os outros
gostariam que fizéssemos.
Trata-se de um universo paralelo que impôs um novo padrão de vida, de
beleza, de inteligência e de relações sociais. Na ânsia de super valorizar o
outro e aquilo que ele tem, nos tornamos o “patinho feio” dessa narrativa. Por
isso celebro minhas imperfeições, a capacidade de lidar e aprender com elas
todo santo dia.
Aprendi com Guimarães Rosa que o correr da vida embrulha tudo e, que, às
vezes, tumultua, tranquiliza, pressiona daqui, acalma dacolá. Mas uma coisa ela
quer da gente: coragem. Para quê? Para viver o propósito: dos encontros e
desencontros; dos acertos e dos erros; das chegadas e das partidas; de saber
dizer sim, mas aprender o momento de dizer não; dos muitos dias de lutas e dos
poucos de glória; de compreender que algumas pessoas ficarão no meio do caminho
pelo simples fato de que não compactuarem mais dos mesmos ideais.
É preciso saber celebrar a não perfeição, a lidar com as pedras no
caminho, a ficar quieta no meu canto, porque há lutas que não são minhas, a ser
exposta mesmo querendo ficar resguardada, a ter a família sempre do lado
esquerdo do peito, mesmo com 530km de distância; a procurar pelo silêncio que
aquieta o espírito e pela solidão que aquece a alma.
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