Por Shirley Pinheiro
Graduada em Letras pela Universidade Regional do
Cariri (URCA)
“Qual
foi a semente que você plantou?
Tudo
acontece ao mesmo tempo
Nem
eu mesmo sei, direito, o que está acontecendo
E
daí? De hoje em diante, todo dia vai ser o dia mais importante”
(Eu Era Um Lobisomem Juvenil, Legião
Urbana, 1989)
… E
acredite, essa é a frase mais otimista que eu proferi em pelo menos vinte dias.
Mas não me leve a mal, apesar da minha “natureza pessimista”, estou criando
muitas expectativas para esse ano, só estou tentando mantê-las num nível
realista. 2024 é o meu ano de transição e tudo o que quero dele é “chegar até
às nuvens com os pés no chão”. E como vou fazer isso? Bem, essa é uma pergunta
que me faço desde que ouvi Eu era um
lobisomem juvenil, da Legião Urbana, pela primeira vez.
Normalmente,
ao final de todo ano, assim como várias pessoas ao redor do mundo, eu me
debruço sobre uma folha de papel e transcrevo uma enorme lista de resoluções
para o ano seguinte — ler mais livros, ser mais saudável, juntar dinheiro, ser
mais tolerante com meus irmãos — todos os caminhos que eu quero seguir naquele
ano vão parar naquela lista. O problema é que, no ato de sua concepção, muitas
dessas expectativas já estão fadadas à frustração.
Só
que em 2023, entre os aperreios da finalização da minha monografia, o
encerramento do meu estágio, as festas de fim de ano e os planejamentos do
aniversário da minha irmã mais nova, os rituais de fazer resoluções numa folha
de papel acabaram se perdendo na falta de tempo (e vontade). Por essa razão,
para 2024 só ficaram as expectativas que a memória me permitiu escrever no
coração. E, relembrando a música de Renato Russo, “palavra é o que o coração
não pensa”. As minhas, então, foram carregadas de sentimentalismo e de
realismo, focadas principalmente no meu crescimento pessoal e intelectual, e no
desejo latente de existir.
E,
dentre todos os nós que vi nascer, 2024 é o único que realmente se parece um
livro em branco esperando para ser escrito (esperando para ser vivido) e, como
tal, é provavelmente o ano em que a vontade de vivê-lo e de preenchê-lo com as
mais belas memórias se projetou mais forte em meu interior. 2024 se converte no
ano em que pretendo colocar em prática todo o autorrespeito que aprendi nos
anos anteriores, bem como a minha fé e os desejos que finalmente me encontram
livre para realizá-los, hoje, ainda mais consciente de cada um, de como
alcançá-los e de suas consequências — meu maior comprometimento é não invalidar
minhas vontades, independente do obstáculo que se projete sobre elas.
Acredito
que, como o “lobisomem juvenil” da letra da Legião Urbana, que tenho sido há
vinte e cinco anos, essa é a primeira vez que “consigo ver sentido no que
sinto, o que procuro, o que desejo e o que faz parte do meu mundo”. Esse ano,
quero ter a paz de não me preocupar por estar preocupada.
2024
não vai ser o ano da minha vida, porque vai ser o primeiro ano muito bom dos
muitos que virão na minha existência. De hoje em diante, entre as nuvens e com
os pés no chão, todo dia vai ser o dia mais importante.
Jornal Leia Sempre Brasil
Edição desta sexta-feira 19 de janeiro de 2024
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